BNEI ANUSSIM E OS CRIPTO-JUDEUS

I. Introdução – Bnei anussim, filhos dos forçados ou “ben anús” (filho forçado) ou ainda judeus marranos. Sãos os descendentes de judeus portugueses e espanhóis que foram obrigados a se converterem ao cristianismo pela imposição da “Santa Inquisição”. No Brasil, os Bnei Anusim são encontrados principalmente em regiões de antiga colonização como na região Nordeste e na região Sudeste do Brasil.

A. História – Como 90% dos perseguidos pela inquisição eram judeus, poucos os perseguidos pelos inquisidores eram de outros grupos. As dores e torturas perduraram muitos séculos. Devido ao medo, a história ficou por muitos séculos esquecida e encoberta com o sangue dos judeus que tinham esperança em voltar ao judaísmo ou serem resgatados por seus irmãos. Na atualidade a história ficou popularizada pela internet com o vídeo “Zog Marano”. E devido às muitas histórias entre os nordestinos e mineiros sobre seus parentes judeus (que em grande maioria acredita que é história de roceiro). Pela curiosidade sobre o fundo de verdade na história, muitos dos jovens têm procurado resgatar essa história perdida.

B. Características – Bnei anussim é o grupo de criptojudeus ou somente de judeus descendentes dos Sefarditas (grupo de judeus com características semitas (árabes). Em geral, cabelo crespo, pele morena e nariz avantajado, distinguindo-se dos Falasha (judeus negros) e dos Asquenazes (judeus com características arianas, descendentes de alemães). Judeus não são proselitistas e a explicação dessas variações na raça é a união familiar cruzadas no decorrer da história judaica. Na China existem judeus com características chinesas e no Marrocos conservam o estereótipo árabe (semita). Em maioria os judeus carregam por característica cabelo crespo e nariz protuberante, sendo que no Brasil a maioria (com conhecimento judaico) parece muito com os europeus.

Segundo lendas dessas mesmas famílias e como mostra o documentário “A Estrela oculta do sertão”, que apesar de não conhecerem ou praticar integralmente a tradição e a religião judaica, ainda guardam o conhecimento geracional de sua identidade judaica, geralmente no nordeste.

Segundo essas mesmas famílias, a tradição diz que a palavra sarará vem de sefarad (Espanha), embora a pronuncia seja parecida e haja ainda uma discordância entre o que tradicionalmente se lê em livros, fica em aberto uma das supostas marcas da etnia inicial dos sarará (sefarad) como relatado por Colerus que conheceu em Rhynsburg, Bento Spinoza. Falando sobre Bento Spinoza, um dos mais destacados judeus Sefaraditas declara, “era de mediana estatura, feições regulares, pele morena, cabelos pretos e crespos, sobrancelhas negras e bastas, denunciando claramente a descendência de judeus Sefaradim ou Sefaraditas (Originalmente naturais da Espanha).”

Mesmo não tendo uma prova concisa, temos uma possível correlação adjetiva que divide-se no significado Etimológico da palavra, pois popularmente no nordeste e em outras regiões o termo sarará (entre os marranos) é aplicado para pessoas de pele clara e cabelo crespo ou morenos de cabelo crespo claro ou escuro. Possivelmente a aplicação desse termo existia e foi evoluindo e se modificando dependendo da influência e da percepção sócio-cultural de cada região. Durante o passar dos anos o Marrano (Ben Anús sefaradita) foi perdendo sua identidade por não conhecer detalhes históricos que foram esquecidos e ocultados. Os processados pela “Santa Inquisição” tiveram seus bens espoliados e seu contato com cultura e educação (tanto laica quanto religiosa) foi restrito, boa parte deles passaram a viver nos agrestes, sertões e cidades pequenas.

Segundo antropólogos, outra teoria interessante sobre a feijoada, partindo do principio que em outros países onde a inquisição era fortemente aplicada, pratos preparados de forma muito peculiar e com mesmas características que a feijoada eram a mais eficaz forma de teste de anti-judaísmo para reconhecer quais eram os praticantes da religião. Pratos a base de carne de porco misturado eram preparados para a confirmação do teste. Não somente a feijoada, mas pratos típicos de minas gerais e do nordeste Brasileiro são preparados de igual forma o que atesta a teoria de que não é somente esse prato guarda essas características. Apesar de não ser uma posição oficial histórica, é um forte indicio pára o reconhecimento de detalhes particulares a cultura, tradição e indicio da religião, que embora não apareça tão latente, ainda guarda marcas e cicatrizes fortes na cultura. Uma outra marca forte é o Berrante que em suma é igual ao instrumento usado tradicionalmente em guerras e na religião judaica, o Shofar. O berrante carrega características muito semelhantes ao Shofar. Especialmente o Shofar de chifre de antílope. [1]

II. Quem são os Bnei Anussim? A Desconhecida Origem Judaica de Muitos de Nós, Brasileiros – Todos aprendem na escola, logo cedo nas aulas de história, que o povo brasileiro é composto basicamente da mistura de três raças: branco, negro e índio. Contudo, os historiadores passaram por cima de um detalhe importantíssimo: como era composto o grupo dos brancos (portugueses).

Graças a esta omissão, apenas agora muitos brasileiros descobrem que podem ser descendentes dos judeus massacrados pela Inquisição promovida por Isabel de Castela, rainha católica da Espanha, com todo o apoio, conhecimento e ajuda, da Igreja Católica. Isabel, através de contrato de casamento, estendeu a Inquisição à Portugal, obrigando o Rei a livrar-se dos judeus.

Os judeus sefarditas (judeus de Portugal e Espanha, também chamados de sefardim, sefaradim, sefaraditas) foram forçados a se converter ao cristianismo, sendo então denominados “cristãos novos” e deixando para trás toda a cultura e tradição judaicas. Modificaram seus sobrenomes (Aboab, Cohen, Abravanel, Aruch, entre tantos outros), adotando nomes muito comuns entre nós brasileiros até hoje: Pereira, Araújo, Almeida, Bezerra, Caldeira, Dias, Cardoso, Melo, Lopes, Oliveira, Saldanha…Para descobrir as esquecidas origens judaicas, é necessário inteirar-se da história; do que aconteceu durante a Inquisição, de tudo o que os judeus sofreram e foram obrigados a deixar para trás. Só assim entenderemos como muitos de nós, criados em famílias católicas, somos em verdade, judeus sefarditas.

Os judeus sefarditas tiveram sua ascendência na Espanha e de lá foram para Portugal, Brasil, Turquia, Marrocos e norte da África. A população da comunidade judaica chegou a representar mais de 20% da população ibérica. Os judeus cresceram e prosperaram durante séculos. Dominavam a ciência, a medicina, a astronomia, a matemática, o comércio e deram origem aos primeiros bancos para empréstimos de dinheiro, inclusive para o próprio Estado.A Inquisição na Espanha iniciou-se em 1478 e foi até 1834. Em Portugal ela se estende de 1536 a 1821 e a Inquisição Romana (reorganizada) em 1542 e abolida em 1746 e em 1800 no quadro de diversos Estados Italianos. No Brasil, compreendeu o período de 1591, quando nosso país recebeu pela primeira vez a visita do Inquisidor oficial da Corte Portuguesa, até 1821. Mas, se considerarmos que desde o descobrimento os judeus aqui chegaram já em número significativo nas expedições do cristão novo Fernando de Noronha em 1503, podemos afirmar que o período inquisitorial no Brasil durou mais de 300 anos.

A. A expulsão dos judeus da Espanha: Nos séculos XIII e XIV, até ao século XV, a igreja católica crescia e com isto a pressão sobre a conversão dos judeus também. Em outras palavras, para um judeu, ser batizado e aceitar o catolicismo era sinônimo de garantir um futuro aparentemente seguro, mesclando-se com os mouros, visigodos, fenícios, romanos e celtas que também habitavam a Península Espano-Portuguesa. Assim, um filho de cristãos-novos já nascia alheio às tradições e costumes judaicos. A história nos mostra que netos e bisnetos dos judeus conversos acabaram se tornando frades e padres, pois abraçavam a religião com grande obstinação, fato este peculiar à raça hebréia. O famoso padre Antônio Vieira (Sermão da Sexagésima) que fez parte da história do Brasil é um exemplo desta assimilação.

Os judeus sefarditas começaram sofrer um processo assimilativo, tornando-se cidadãos comuns, assassinando suas raízes judaicas, abandonando a celebração do Shabat e passando a freqüentar as missas de Domingo. Mas, isto não acontecia com todos aqueles que se tornavam cristãos-novos. Uma boa parte assumia o cristianismo externamente e acabavam se tornando o chamado “católico relapso”, passando apenas pelo batismo e daí para frente não assumia nenhum compromisso. Grande parte destes judeus vieram mais tarde para colonizar o Brasil. Até hoje em nossa sociedade este tipo de católico é muito comum. E, finalmente, uma outra parte não significativa praticava o criptojudaísmo, não assumindo interiormente a fé católica.

A terminologia pejorativa de “marranos”, que quer dizer porco / sujo em Espanhol, era atribuído aos criptojudeus.Um fato historicamente marcante aconteceu quando surgiu Torquemada, grande perseguidor dos judeus e confessor da rainha Isabel da Espanha. Isabel casou-se, então, com o rei Ferdinando Aragão em 1469… O trio da crueldade estava formado e dez anos mais tarde os reinos estariam unidos, tendo uma causa comum: a Inquisição. Neste período havia vários decretos proibindo o judeu converso a ocupar cargos públicos, bem como de usar ou valer-se de qualquer outro privilégio do Estado. A partir de 1480 o trio Torquemada, Ferdinando e Isabel pôs em prática certas táticas de inquisição contra os judeus e conversos, instituindo os chamados “Autos de Fé” levando esses a uma degradação desumana, mostrando seu lado covarde e perverso. Surgia nesta época artefatos engenhosos para os mais variados tipos de tortura. Os pobres não tinham outra alternativa a não ser ir para a tortura, declarar-se judeu e optar pela fé católica, escapando da morte. Para os mais ricos a pena poderia ser computada sob a égide de uma fiança exorbitante. Várias proibições surgiram na época, como por exemplo, os profissionais não poderiam exercer suas funções de médico, advogado, tão pouco usar jóias de ouro, prata, nem seda ou até mesmo deixar a barba crescer…(etc., etc.)

Quem sou eu – Os Bnei Anussim são descendentes de judeus da inquisição que foram forçados a se converter ao cristianismo , sobre pena de morte e perca de seus bens materiais , separação de suas família “Anussim significa forçado”. [2]

III. B’Nei Anussim – Muitos nos dias de hoje, e principalmente (e talvez quase que exclusivamente no Brasil) se deparam na internet com sites que levam consigo a “bandeira” Bnei Anussim… Dentre estes encontramos grupos que se intitulam “comunidades judaicas”, alem é claro de usarem para isso termos como “kasher”, “sefardita”, “sefaradi”, “Inquisição”, “marranos” e demais termos provenientes do hebraico ou de denominações históricas que cercam a saga judaica no referente à Inquisição ou ainda de conteúdo religioso…

Menções á Sábios Judeus, a famosas comunidades, são algo que não faltam nestes. Porem algo que se demonstra cada vez mais claro é falta de informações que confiram a tais instituições e comunidades tal idoneidade.

Sempre mencionam seus “rabinos”, dizem ter estes estudados em diversas Ieshivot, sendo algumas conhecidas, porem nunca fazem citações a que Rabanut estes pertencem (notem também o fato que ter estudado em uma Yeshivá não confere automaticamente a Semichá, que é o titulo de Rav).

Essas e demais incongruências se fazem presentes nestes grupos, alem é claro de definitivamente, ir contra a uma das principais características judaicas, pois pregam o proselitismo. Convidamos a você, leitor, a adentrar em um breve estudo sobre a real situação e sobre a verdade referente a este assunto.

A. O que significa “Bnei Anussim”? Em hebraico significa literalmente “filhos dos forçados”, termo que designa os descendentes dos judeus que na época da Inquisição foram obrigados a se converter ao cristianismo se não seriam mortos.

B. O que define um judeu? O que define um judeu? O ventre judaico, ou a conversão segundo a Halachá (Lei Judaica), ou seja, pela ortodoxia.

C. Os “Bnei Anussim” são judeus? Não. Mas para entender este ponto deve-se ver os seguintes fatores:

•Os judeus espanhóis e portugueses que “se faziam” de cristãos, e seus descendentes (judeus não assimilados), para seguir com sua real Fé, logo fugiam para países onde pudessem viver normalmente e abertamente como judeus, a exemplo temos a famosa Sinagoga de Amsterdã.

•Muitos fugiram sim para o Brasil, como historicamente é provado, e a princípio se fixaram em Recife. Porem quando a Inquisição fora instaurada aqui, a comunidade logo saiu de Recife, parte indo para Amsterdã, a maioria, como no caso do Rav desta, e outros, para Nova York, formando a primeira comunidade judaica dos Estados Unidos, existente até hoje e muito respeitada (e claro ortodoxa).

•Os que ficaram no Brasil se assimilaram entre os cristãos, aceitando sobre si esta mesma crença. Casamentos mistos eram realizados, observavam os costumes destes… Claro que é possível haver exceções, porem estas de maneira alguma são possíveis de se comprovar hoje em dia, sendo que se fosse existente a possibilidade deveria ser feita uma melhor confirmação por um Beit Din (Tribunal Judaico), ver caso dos Falachás. É claro e até mesmo óbvio que alguns iriam preservar determinados costumes judaicos, porem também é claro e óbvio que isso não faz de seus descendentes judeus.

D. Os “Bnei Anussim” tem o dever de se converterem? Como se faz conhecido o judaísmo não é uma religião proselitista, e por tanto não existe nenhuma obrigação quanto a esta.

A eles tanto quanto a qualquer outro não judeu existe a possibilidade da conversão, porem e somente, de forma ortodoxa. E aqui se deve lembrar que não existe “Conversão válida ao judaísmo no Brasil”, somente é possível o estudo e preparação para esta por meios ortodoxos.

E. Caso um Ben (ou Bat) Anus não queira se converter ele esta fazendo algo de errado? De maneira alguma, como apontamos na questão anterior. Sob este recai as 7 Leis de Noach (Noê), o Código Noahide. E como qualquer outro não judeu (sendo que este também é um não judeu) que observa este Código é considerado como Maimônides descreve sendo: Chassidei Umot HaOlam ( Justos dentre as Nações), e é merecedor do Olam HaBá (Mundo Vindouro).

F. Existe algum vinculo destas falsas “comunidades” com os judeus Sefaradim? De maneira alguma. Os judeus sefaradim são todos aqueles judeus oriundos de paises como Portugal, Espanha, norte da África (Marrocos, Tunísia, Egito…) e Oriente Médio (Iraque, Líbano, Síria…). Estes por sua vez são judeus ortodoxos, e de maneira alguma incentivam instituições pseudo-judaicas como estas, ou se quer vinculam seu nome a estas.

G. Existe alguma Instituição séria e reconhecida referente aos “Bnei Anussim”? Sim, porem estas devem ser reconhecida pela Rabanut HaRashit em Israel como a Shavei Israel, ou por outra Rabanut Ortodoxa. Porem caso haja alguma dúvida sobre este aspecto se deve contatar um Rav ortodoxo.

H. Como reagir com estes “grupos pseudo-judaicos”? Simplesmente não aceite ou concorde com estes, e avise a conhecidos que estejam se envolvendo com estes sobre os seus perigos e falsidades. Conte a estes também sobre a visão judaica sobre a conversão e as 7 Leis de Noach, o Código Noahide.

I. Conclusões deste pequeno e breve estudo:

•Confira as fontes dos sites que você entra dos livros, citações, caso necessário procure um Rabino ortodoxo se houver alguma dúvida. •Procure uma autoridade ortodoxa se necessário, caso tenha dúvidas em relação a alguma possível instituição. •Desconfie de sites “judaicos” que realizam proselitismo. •Todos podem falar que estudaram ou não em algum lugar, peça comprovação desta afirmação, por parte de alguma fonte ortodoxa.

Esperamos que este artigo acrescente em sabedoria para aqueles que desconheciam este assunto e relembre aos que já conhecem.

2 Comentários for “Bnei Anussim”:  (1) Anônimo, Sex Jun 03, “Não somos uma raça, somos um povo e sendo assim, temos por DNA a origem não somente humana, mas sobretudo do amor do Eterno D`US, por todos nós, que um dia de forma violenta (inquisição), ou por gerações forçadas e adaptadas ao cristianismo, onde depois de algumas gerações, perdemos nossa identidade e costumes.

Portanto querendo você(s) ou não, somos JUDEUS, porém com uma grande diferença, ao sabermos e resgatarmos nossas origens, resgatamos o calor e a bravura de amar esse D´US que muito de vocês esqueceram, ao se associarem e se adaptarem as culturas de uma sociedade, que não tem esse calor e bravura de falar alto e em bom som, sou JUDEUS goste quem gostar.” 

(2) Anônimo, Seg Jun 06, “só D’us (bendito Seja Seu Santo Nome) sabe quem é verdadeiramente judeu ou não.”  [3]

IV. Caminhos da memória – … Procuramos mostrar uma história de Portugal pouco divulgada até para os portugueses. Um resgate de memória que permanece por mais de cinco séculos nas ruínas, nos costumes, nos nomes de ruas e praças, mas que é pouco associado à origem judaica.

Milhares de portugueses que chegaram nas primeiras caravelas já no Descobrimento eram judeus convertidos. O Brasil transformou-se num destino sinônimo de salvação. Para cá vieram tanto suspeitos em fuga quanto condenados. Em muitos casos a pena imposta pelo Santo Ofício era a extradição para a nova colônia. Trouxeram na bagagem costumes judaicos que foram incorporados à cultura brasileira e hoje ainda são praticados, na grande maioria, sem vínculo com a religião. Segundo a professora Anita Novinsky , um terço dos portugueses que aqui chegaram eram cristãos-novos, ou seja, judeus conversos e seus descendentes .

Muitos sobrenomes comuns no Brasil, como Silva, Cardoso, Oliveira, Pereira, Nunes, Mendes, Azevedo, Lopes, são sobrenomes de cristãos-novos. Nosso próximo passo é continuar este trabalho no Brasil através do resgate de costumes e tradições presentes nos dias de hoje e que têm sua origem na cultura judaica.

Interessa-nos apresentar a genealogia do brasileiro descendente dos cristãos-novos que, depois de cinco séculos de Brasil, assimilou-se totalmente, porém incorporando à cultura brasileira parte de sua inconsciente herança judaica. Em outras palavras, queremos mostrar as raízes judaicas do povo brasileiro, raízes que podem ser apontadas como fundamentais na formação étnica do povo brasileiro.

Queremos mostrar que alguns legados marcantes da nossa cultura, principalmente no Nordeste, como acender velas para os anjos, circuncidar os meninos ao nascer, enterrar os corpos em mortalhas, retirar o sangue dos animais abatidos, não comer carne de porco e fazer faxina às sextas-feiras, têm sua origem nas práticas dos cristãos-novos que chegaram por aqui há 500 anos.

Nada melhor para encerrar este texto do que o conceito do “homem dividido” exposto pela professora Anita Novinsky em seus primeiros estudos sobre os cristãos-novos no Brasil:

“O cristão-novo encontra-se num mundo ao qual não pertence. Não aceita o catolicismo, não se integra no judaísmo do qual está afastado há quase dez gerações (no século 17). É considerado judeu pelos cristãos e cristão pelos judeus … Põe em dúvida os dogmas da religião católica e a moral que esta impõe. Internamente é um homem dividido, rompido, que, para se equilibrar , se apóia no mito de honra que herdou da sociedade ibérica e que se reflete na freqüência com que repete que “não trocaria todas as honras do mundo para deixar de ser cristão novo”. Exatamente nisso se exprime a essência do que ele é : nem judeu, nem cristão, mas “cristão-novo com a Graça de Deus” (Cristãos-Novos na Bahia – Ed. Perspectiva , 1972). [4]

V. O que é a ABRADJIN? A Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição (ABRADJIN) é uma iniciativa cultural (em processo de registro) criada e dirigida sem finalidade econômica ou lucrativa, sem número limitado de participantes, tendo como objetivo principal auxiliar todo interessado em descobrir e, eventualmente, restaurar suas raízes judaicas caso acredite ou tenha evidências de procedência judaica portuguesa, espanhola ou mesmo de outros países, como Holanda, Marrocos, etc; e cujos antepassados, por causa da Inquisição, tenham vindo para o Brasil a partir do século XVI.

A ABRADJIN* é uma iniciativa cultural… criada e dirigida sem finalidade econômica ou lucrativa, sem número limitado de participantes, cujo objetivo principal é levar o conhecimento da grande influência judaica no período de colonização do Brasil através de livros, artigos, documentos, registros históricos, memoriais, etc. Através de seu material bibliográfico, a ABRADJIN auxilia possíveis descendentes de Judeus perseguidos durante o período da Inquisição no Brasil, Portugal e Espanha, a descobrirem ou compreenderem melhor suas raízes étnicas e culturais. Especificamente, esta associação também ressalta a influência relevante que povo judeu, representado aqui em grandes proporções pelos cristãos-novos, tiveram tanto na colonização do Brasil como na formação étnica e cultural do povo brasileiro.

Por “cristãos-novos” referimo-nos aos judeus forçados à conversão à fé católica na Península Ibérica (Espanha em 1492, Portugal em 1497); uma parte significativa desses conversos passaram a praticar a fé judaica em segredo, sob risco de morte nas fogueiras da Inquisição, e o termo tornou-se um estigma que os diferenciava dos “cristãos-velhos” sem origens judaicas; os praticantes do cripto-judaísmo ficaram conhecidos também pelo nome pejorativo “marrano”. Em busca de regiões com maior tolerância ou menor vigilância por parte do Tribunal do Santo Ofício, os cristãos-novos espalharam-se por várias localidades, destacando-se as colônias nas Américas. Assim, dentre os povos que colonizaram o Brasil, os judeus sefaraditas, portugueses e espanhóis se destacaram grandemente.

Cobertos sob o manto da clandestinidade e do segredo, eles mantinham práticas cristãs em público,  mas preservavam sua identidade judaica na intimidade e reclusão de seus lares.

Com as constantes denúncias e o acirramento da perseguição por parte da Inquisição, bem como a impossibilidade da vida judaica comunitária e aberta, os cristãos novos perderam paulatinamente sua memória e a transmissão entre as gerações dos valores religiosos e culturais do judaísmo, permanecendo atualmente apenas resquícios de práticas e tradições familiares diluídas nas vidas das famílias descendentes dos cristãos novos.

É preciso ressuscitar a memória desses fatos importantes da história para resgatar as raízes e tradições que contribuíram para a formação de nosso país, visando entender nossas próprias características e peculiaridades. Acreditamos que é um direito legítimo de cada cidadão conhecer suas origens e costumes de seus antepassados, compreendendo assim o presente de forma mais plena. É neste contexto que a ABRADJIN atua: auxiliando através de seu material de pesquisa os interessados em conhecer mais a respeito dessa lacuna da história brasileira tão negligenciada nas instituições educacionais de nosso país. * A ABRADJIN não fornece nenhum tipo de atestado de ascendência Judaica ou judaicidade. [5]

VI. Primero Rabino israelense ex -marrano retorna como Shaliach para Espanha – Pela primeira vez desde a expulsão dos judeus da Espanha em 1492, um descendente de marranos judeus que imigrou para Israel e recebeu a ordenação rabínica irá retornar para a Espanha para atuar como rabino. O rabino Nissan Ben Avraham, morador da cidade de Shiló…, foi nomeado um novo shaliach para os marranos “ ou bnei anussim – da comunidade judaica na Espanha. Nascido em Palma de Maiorca em 1957 em uma família católica praticante, seu nome de nascimento era Nicolau Aguilo… na primavera de 1978 submeteu-se à conversão formal ao judaísmo pelo Rabinato Chefe de Israel e assumiu o nome hebraico de Nissan, em homenagem ao nome do mês hebraico no qual se submeteu à sua própria e personalíssima revolução espiritual… Segundo a Shavei Israel, os judeus de todo o mundo deve abraçar seus irmãos judeus perdidos. Se for feita uma conexão entre bnei anussim e judeus, diz Freund, isso irá beneficiar o turismo de Israel, bem como a luta contra o antissemitismo. Da experiência pessoal, diz Freund, quando as pessoas descobrem que têm raízes judaicas, eles desenvolvem uma afinidade em relação a Israel e ao judaísmo, mesmo quando permanecem católicos. De acordo com algumas estimativas, ainda há dezenas de milhares de bnei anussim em Portugal e Espanha, e há quem diga que os números chegam a 100 mil. No Brasil, que abriga a maior concentração de bnei anussim, alguns acadêmicos falam em mais de 3 milhões de pessoas. [6]

Fontes: [1] Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/B%27nei_anussim

[2] B’Nei Anussim Blogspot: http://bneianussim.blogspot.com/2006/12/quem-so-os-bnei-anussim.html

[3] Posted by Magal, 2/02/2011, Bnei Anussim:   http://www.coisasjudaicas.com/2011/02/bnei-anussim.html

[4] Associação Sholem Aleichem – por Elaine Eiger e Luize Valente (Elaine Eiger é fotógrafa e Luize Valente, jornalista. Em 2000, produziram e lançaram o livro de fotos e textos Israel Rotas e Raízes): http://www.asa.org.br/boletim/84/84_portugal.htm

[5] ABRADJIN: http://www.anussim.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1&Itemid=1

[6] http://br.groups.yahoo.com/group/fisba-fisba/message/232; http://urishalaim.blogspot.com/2010/02/primeiro-rabino-israelense-ex-marrano.htm\
Coordenador: Saul S. Gefter

1 comentário em “BNEI ANUSSIM E OS CRIPTO-JUDEUS”

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