I. Introdução – O nascimento de uma criança é uma experiência emocional para todos que dela participam. É um verdadeiro milagre que se reproduz a cada nascimento e transforma a vida dos pais.
É um dos instantes singulares no qual se tem consciência da grandiosidade Divina. E a mãe, que passou 40 semanas apreensiva, enfrentando o desconforto do final da gravidez, esquece todas as dores, vivenciando apenas essa experiência única. Esse milagre, obra do poder de D’us, está presente no relato da Bíblia sobre a imensa alegria de Eva após ter dado à luz seu primeiro filho. Ao segurar em seus braços “carne de sua própria carne”, sente uma alegria que jamais sentira e percebe que D’us participou nesse processo de criação. Um midrash explica que há três parceiros no nascimento de uma criança: o pai, a mãe e D’us. O pai é o responsável pela matéria branca, como os ossos, cavidades, unhas, cérebro e a parte branca dos olhos. A mãe é quem dá a matéria vermelha, que forma a carne, o cabelo, o sangue, a pele e a parte escura dos olhos. D’us oferece o espírito, o hálito, a beleza dos traços, a capacidade de ver, ouvir, pensar, falar e andar.
Desde os primórdios do judaísmo as crianças são consideradas algo precioso, que deve ser protegido, merecedor de tempo e energia. Esta visão não era comum nas civilizações antigas. Estudos arqueológicos e documentos antigos revelam que o infanticídio era aceito como forma mais efetiva de controle de natalidade, tanto na antiga Grécia quanto em Roma. Recém-nascidos eram abandonados nas ruas e nos campos.
Para o judaísmo, as crianças são os depositários de nossa tradição milenar, a garantia da continuidade do povo judeu. Sem nossos filhos não há judaísmo e é dever dos pais cuidar deles e protegê-los física e espiritualmente. As tradições para se receber e proteger a criança variam de comunidade a comunidade e de época a época. Nos tempos bíblicos, em Israel, era costume celebrar o nascimento plantando uma árvore – cedro para homens e pinheiro para mulheres. A criança iria crescer assim como a árvore.
No dia do casamento, os pais dos noivos construíam com estas árvores o aposento nupcial. Em algumas comunidades, são colocados perto da cabeça do bebê livros com os Salmos de David, para protegê-lo. Em outras, fitas vermelhas ou pedras azuis utilizadas para evitar o ayn raá – mau olhado.
Os meses que antecedem o nascimento são cheios de feliz expectativa. Os pais estão ansiosos para que tudo esteja pronto para receber seu filho. Mas, apesar da ansiedade, alguns casais têm o costume de adiar os preparativos até o bebê nascer.
Algumas diferenças marcam as tradições do brit milá nas diversas comunidades sefaradim. Na comunidade síria, por exemplo, costuma-se fazer na noite que antecede o brit uma reunião religiosa festiva chamada Shadd-il-Asse. Os convidados – parentes, amigos e rabinos – lêem em aramaico trechos do Zohar visando a proteção do recém-nascido. Segundo os ensinamentos cabalísticos, um menino passa a ser judeu “por completo” somente após o brit, quando se torna parte da Aliança de D’us com o povo judeu, através de Abrahão. Assim que a leitura termina, são cantadas músicas típicas sefaradim, enquanto são servidos doces e refrescos.
O brit milá é realizado, em geral, logo cedo pela manhã. A avó costuma ser a madrinha e entregar o bebê a alguém a quem se queira homenagear. Em seguida, o bebê passa para os braços do irmão mais velho (ou de outro membro da família), que terá a honra de colocar a criança sobre a almofada ou a cadeira de Eliahu Hanavi. Na comunidade síria não há cadeira especial para Eliahu Hanavi, mas sim um parochet – tecido que cobre a arca para a cerimônia – especial no qual está inscrito o nome do profeta. Este é colocado em uma cadeira que simboliza a de Eliahu e na qual ninguém se senta.
Geralmente o sandak – padrinho do primeiro filho varão de um casal é o avô paterno; e, do segundo, o materno, e assim por diante. Pela tradição da maioria dos sefaradim os nomes são dados em homenagem aos pais vivos, da mesma forma como era feito desde o período Mishnaico até a Idade Média. A ordem de prioridade é a seguinte: o primeiro filho homem recebe o nome do avô paterno e o segundo, do avô materno. Procede-se da mesma forma com as meninas, que recebem os nomes de suas avós. A comunidade síria segue até hoje este costume. Algumas vezes os pais escolhem nomes de outros membros da família a quem querem homenagear.
Significado da circuncisão – De acordo a Aliança Sagrada selada entre D’us e Abrão, há 3.700 anos, se o bebê for do sexo masculino, deve ser feito o brit milá, um evento que movimenta toda a família. Mas o que significa brit milá? Em hebraico, brit (bris, na pronúncia ídiche) significa “pacto” e milá, circuncisão.
D’us ordenou a Abrãao o seguinte mandamento: “E vós sereis circuncidados na carne de vosso prepúcio. E será o símbolo de uma aliança entre Mim e vós…” (Gênese, 17:11). “E vós mantereis Minha aliança, vós e todos os vossos descendentes, por todas as gerações” (Gênese, 17:9-12). Desde então, os meninos de todas as nossas gerações são circuncidados no oitavo dia após o nascimento – e nunca antes.
A circuncisão simboliza o elo do novo filho do povo judeu com o seu passado, bem como sua lealdade com o seu legado futuro. Durante o ritual, são feitas preces que expressam a gratidão dos pais e pedem a bênção divina para o recém-nascido. Nesse momento, a criança recebe seu nome hebraico. É o mandamento mais respeitado e observado em toda a história e a tradição judaica, seguido fielmente geração após geração, até mesmo durante períodos de perseguição religiosa. Todos aqueles que tentaram eliminar o judaísmo tentaram, sem sucesso, abolir a circuncisão. Quando os selêucidas governavam a Terra de Israel, o rei Antíoco IV determinou que a prática da circuncisão fosse punida com pena de morte. Mesmo diante do risco de vida, os judeus não se submeteram a essa proibição.
Após a destruição do Segundo Templo, o imperador romano Adriano também proibiu a circuncisão. Mais uma vez os judeus arriscaram suas vidas pelo direito de continuar a respeitar suas leis. No século V, na Espanha, o rei Sisibut ordenou aos judeus aceitar o batismo no lugar da circuncisão, pois assim teriam seus direitos assegurados. A resposta dos judeus foi taxativa: “A lei da circuncisão é a raiz da nossa religião… Mesmo sob pena de morte não abandonaremos nenhuma de nossas leis, essa em especial”.
O brit milá é feito no oitavo dia mesmo se este cair no Shabat ou em Yom Kipur. A cerimônia só pode ser adiada no caso de a criança estar doente ou abaixo do peso determinado pelas leis da halachá. O ritual começa com uma declaração do pai de sua intenção de cumprir esta mitzvá. O bebê é trazido sobre uma almofada por uma das avós ou pela madrinha, sendo colocado por alguns momentos na cadeira destinada ao profeta Eliahu que, segundo a tradição, está presente durante toda a cerimônia. Denominado em referências bíblicas de “o anjo do pacto” e o protetor das crianças, Eliahu lutou no século X antes da era comum contra os soberanos do Reino de Israel – o rei Ahab e a rainha Jezebel, que haviam introduzido o culto a Ba’al, abandonando a Aliança com o Eterno, ou seja, a circuncisão. De acordo com a tradição, D’us recompensou o zelo de Eliahu determinando que nenhum brit milá ocorreria sem a sua presença. Sentado, Eliahu Ha-Navi observaria o cumprimento da Aliança.
Em seguida, a criança é colocada sobre os joelhos do sandak, que a segura durante a circuncisão, feita por um mohel – geralmente um rabino que recebeu um treinamento médico e religioso para realizar o procedimento. Nos tempos bíblicos era o próprio pai quem circuncidava o seu filho.
Ser escolhido como sandak é uma grande honra. Em geral, escolhe-se o mais velho ou o mais respeitado membro da família, freqüentemente, o avô paterno ou materno. Como vimos no texto acima, em algumas comunidades o avô paterno é sandak do primeiro filho de um casal e o materno, do segundo. No fim da cerimônia dá-se o nome em hebraico para a criança. Após o brit milá costuma-se realizar uma cerimônia festiva chamada seudat mitzvá.
Nome, a essência da alma – A palavra alma em hebraico, neshamá, é composta de quatro letras. Ao soletrar-se as duas letras do meio, surgirá a palavra shem, que significa “nome”. Diz a tradição judaica que o nome de uma pessoa é a essência de sua alma. Está escrito que quando os pais escolhem um nome para o seu bebê são abençoados com inspiração divina. O nome não é apenas descritivo, é também profético. “Ele é como seu nome” (Samuel 25:25).
O costume de não divulgar o nome da criança até a circuncisão ou a cerimônia de atribuição do nome tem origem em um conceito talmúdico. Os meninos são nomeados durante a cerimônia de brit milá. As meninas recebem o nome hebraico na sinagoga, durante o primeiro Shabat que segue o seu nascimento. O pai é chamado para uma aliá à Torá e o mesader anuncia o Avi Habá. Em seguida, a congregação canta Pizmonim Lezeved Habat. O rabino lê a berachá, a misheberach e o nome da menina é dado com Bemazal tov ubisheat berachá. É uma reza com votos para que os pais tenham muitas alegrias com essa filha, que a vejam casada e mãe de filhos. É costume na comunidade judaica ter um nome civil e um hebraico. Somos conhecidos na comunidade pelos nomes hebraicos e os usamos em cerimônias religiosas como bar mitzvá, bat mitzvá e ao recitar as preces na sinagoga ou sob a chupá, entre outras. Os homens o utilizam também quando são chamados à Torá e durante outros eventos.
Há duas tradições diferentes para guiar os pais em sua decisão de escolher os nomes de seus filhos. Os ashquenazim não costumam dar nome a uma criança em homenagem a um parente vivo. Os sefaradim, por sua vez, honram aqueles que mais respeitam e admiram, dando seu nome em vida ao recém-nascido. É interessante notar que os judeus nem sempre tiveram sobrenomes. Estes não eram necessários quando viviam em cidades pequenas e quase não tinham contatos fora da comunidade. Uma pessoa poderia ser chamada a vida inteira de Chaim Ben Moshe e nunca precisar de sobrenome. Ou seu nome poderia ser Chaim, o padeiro, se essa fosse sua profissão. Há aproximadamente 200 anos os países europeus começaram a exigir que os judeus tivessem sobrenomes e os registrassem. Freqüentemente os judeus criavam seus sobrenomes baseados em sua profissão ou no nome da cidade ou país de onde provinham. O nome Weber significa em alemão, tecelão, e o nome Brodsky significa “filho de Brod”, uma cidade polonesa. Alguns nomes se originam em características pessoais, como Gross, Weiss e Schwartz (grande, branco e preto). Estes nomes logo criaram raízes e foram transmitidos de geração em geração. [1]
II. Hatafat dam brit – Procedimento da halacha da teshuva? Examinando as principais tendências encontradas nas responsas ashkenazim e sefaradim acerca do procedimento de retorno daqueles descendentes dos anussim ao judaísmo pretendem-se expor um exame histórico da opinião rabínica, e como esta se desenvolveu com o passar do tempo.
Propõem-se re-examinar alguns textos rabínicos como fontes judaicas legais do passado buscando a responsa possível para uma teshuvá haláchica, à qual espera-se seja um início para pesquisas e respostas a uma nova responsa judaica legal para o presente. Os rabinos quase sempre emitem decisões haláchicas legais como responsas para perguntas a eles enviadas por pessoas seculares ou até mesmo por outros rabinos. As perguntas são denominadas she’elot, e as respostas teshuvot; a literatura como um todo é denominada responsa haláchica.
As teshuvot (respostas) podem ser respostas curtas e simples a uma pergunta, ou podem ser respostas elaboradas; ambas apresentam respostas à questão e as fontes sobre as quais a resposta está baseada. As opiniões haláchicas em geral estão constituídas de precedentes, construídas sobre as decisões e opiniões do passado.
Porém, elas não se limitam às opiniões majoritárias de qualquer geração, mas nas palavras da Mishná, que pode selecionar até mesmo uma opinião minoritária ou uma opinião individual de um rabino do passado.
Agora devemos retornar à pergunta feita nesta responsa haláchica: Quais são os requisitos judaicos legais para o retorno dos anussim, a integração à comunidade judaica religiosa? Embora esta pergunta possa não parecer relevante, justa, ou tampouco razoável para muitos anussim, é uma pergunta essencial dentro da formatação legal judaica. Em essência, está relacionada à questão do status básico: Quem é judeu, e quais são os elementos essenciais da identidade judaica? As respostas dadas a esta pergunta afetarão cada aspecto da participação no seio da vida religiosa judaica, desde a participação na esnoga ao matrimônio com outro judeu. Antes de apresentar esta proposta, examinaremos duas teshuvot modernas, que, de forma estrita, também encaminham a questão das exigências para o retorno dos anussim. A primeira destas foi escrita pelo eminente rabino Mordechai Eliahu (1994), ex-Rabino-Chefe sefaradí de Israel, e a segunda pelo eminente rabino Aaron Soloveichik (1994), Rosh Yeshiva do Brisk Rabbinical College de Chicago. Ambos são proeminentes rabinos ortodoxos. Ambas as teshuvot foram escritas como respostas para perguntas submetidas pela Dra. Shulamith Halevy, e publicadas no website dela. *A teshuvá do rabino Eliahu é muito simples e direta. Ele declara que os seguintes passos são exigidos para o retorno de um ben-anús ao povo judeu: – Após a conclusão de todos os passos dos estudos Judaicos, a aceitação do jugo da Torá e seus mandamentos, a circuncisão, e a imersão, ele deverá receber um certificado com o título, “Certificado para ele/ela que retornou aos caminhos dos seus antepassados”.
Em outras palavras, além do certificado, Eliahu impõe todas as exigências de conversão ao ben-anús em processo de retorno. Eliahu explica que estas exigências são necessárias por causa do longo tempo desde as conversões forçadas, e por causa da preocupação acerca dos casamentos inter-religiosos por sucessivas gerações. Porém, talvez o aspecto mais notável da teshuvá de Eliahu é a sua aceitação da conexão judaica dos anussim, apesar do longo tempo e das suas dúvidas relativas á linha matrilinear de descendência. Ao falar dos rituais exigidos ele usa termos de retorno em vez de conversão, e como notado acima, o certificado que ele acredita que deveria ser emitido não é um “Certificado de Conversão”, mas em vez disso, um “Certificado de Retorno”. Por outro lado, a responsa de Soloveichik também pode ser curta, mas não é nada simples. Inicialmente ele declara:
“Eles (os anussim) devem ser tratados como judeus plenos em todos os sentidos (contados para um minián, receberem aliot, etc.)”. Os rituais escolhidos são importantes, porque ambas as mitsvot (observâncias religiosas) exigem que o participante seja tão obrigado pela lei judaica como os demais participantes do serviço religioso.
Ao permitir que os anussim as realizem, sem qualquer conversão ou ritual de retorno da parte de uma congregação, é um reconhecimento explícito e público de que eles são completamente judeus. Todavia, em seguida ele nega a inserção deles na comunidade de todos os modos, medidas ou formas, ao exigir conversão plena se o ben-anús que desejar se casar dentro da comunidade judaica.
Diferente de Eliahu, Soloveichik usa explicitamente o termo conversão em lugar de retorno: “Ele ou ela têm que passar por conversão plena”. Esta exigência ritual usando o termo “conversão” contradiz a sua contenção anterior de identidade judaica dos anussim uma vez que a exigência explícita de “conversão” implica que eles não são judeus de modo algum e que, assim sendo, não deveriam ter permissão para contar em um minián ou para receber uma aliá na Torá. Esta responsa é extremamente confusa. Não há precedente na tradição judaica legal para uma pessoa por um lado ser tratada como completamente judia e explicitamente capaz de cumprir as exigências judaicas legais ao lado de outros judeus, e por outro lado ser tratada como não-judia e ser obrigada a “passar por conversão plena”, ao desejar se casar um judeu. A teshuvá de Eliahu se enquadra bem na estrita tradição haláchica ashkenazí relativa ao retorno dos anussim.
Figuras ashkenzazis legais de Rashi ao Rama, ao reconhecerem a condição judaica dos anussim, exigem que eles passem por rituais idênticos aos exigidos para um convertido ao judaísmo. Eliyahu se remete à responsa Sefaradim de Solomon Ben Simon Duran (1400-1467). Porém, ele só aceita a responsa de Duran na medida em que declara que o ben-anús deve ser “aceito com bondade”, e como a base do conceito de que a cerimônia deveria ser a de retorno em vez de conversão. Ele rejeita a opinião básica de Duran, e de fato a de todas as demais autoridades Sefaradim medievais, que exigem os rituais de conversão. Estas duas respostas representam à soma total do pensamento rabínico moderno, ao examinar o retorno dos anussim à comunidade judaica. Porém, eles não representam todas as respostas halachicas possíveis e legítimas às exigências para o retorno dos anussim.
Examinando a abordagem seguinte, como outra sugestão, sobre uma resposta haláchica adequada para esta pergunta. Conforme verificado acima, ambas as responsas rabínicas existentes seguem exigências ashkenazi estipuladas no que diz respeito ao retorno dos anussim. Todavia, a comunidade que retorna é majoritariamente originária de Sefarad.
É sabido que as vivências históricas das comunidades não foram idênticas, e não deveria ser surpreendente, portanto, que as respostas halachicas para situações discrepantes também não sejam idênticas. Isto ocorre graças ao fato de que a halachá é, por natureza situacional e dinâmica, em vez de universal e estática.
Por isso acredita-se que é apropriado, retornar inicialmente para a responsa haláchica dos rabinos Sefaradim, uma vez que eles escreveram e basearam-se nas realidades da comunidade à qual estavam referindo-se. Em essência, a pergunta que é feita poderia ser reformulada para: – “Será que os anussim em processo de retorno devem submeter- se aos rituais de conversão antes de receberem permissão para participar plenamente como parte da comunidade judaica como um todo?” Ao Examinar a exigência aos anussim vis-à-vis as leis de conversão, tem-se:
– Tradicionalmente, a conversão ao judaísmo (para judeus conservadores e ortodoxos) é composta de três (para um homem) ou dois (para uma mulher) passos essenciais, conforme esboçados no Shulchan Aruch Yorê Deá 268, escrito por Iossef Caro. Um homem convertido deve passar por B’rit Milá, Tevilá e Cabalát Mitsvá, ou seja, ser circuncidado e ser imerso em uma micvá, e aceitar o jugo dos mandamentos na presença de um Bet Din (um tribunal de pelo menos três rabinos. – Tecnicamente exige-se de um Bet Din testemunhar todos os aspectos da conversão, mas Caro declara que, na prática, se o Bet Din estiver presente apenas na Aceitação das Mitzvot, a conversão permanece válida). Da mulher exige-se que passe por tevilá (imersão) e Cabalát Miztva (aceitação das mitzvot).
Todos estes passos são necessários ou a conversão é considerada inválida; a única exceção é que se um homem já for anteriormente circuncidado, então se retira uma gota de sangue, em um ritual denominado Hatafat dam brit. Também é tradicional repelir por três vezes o convertido potencial, e hoje a maioria dos rabinos requer um período extenso de estudo, por um ano ou mais, antes que os rituais de conversão possam ser executados.
Cada passo do ritual, conforme estão apresentados no Shulchan Aruch serão examinados em relação ao retorno dos anussim. O primeiro passo da conversão é a exigência de repelir o convertido potencial. O Shulchan Aruch registra que se deve dizer a um convertido: “Você não sabe que os israelitas são um povo oprimido e menosprezado?”. Se ele ainda desejar se converter, então será aceito e o processo é iniciado. Este passo do processo de conversão está ausente das fontes ashkenazi e sefaradi. Após resistir ao desestímulo, o prosélito será educado na lei judaica como preparação para o cabalát mitsvá e a aceitação do jugo da lei. A cabalát miztva será feita na presença de um Bet Din. É interessante notar que Caro não exige que o prosélito passe por uma educação detalhada da lei; em vez disso, ele ou ela somente serão educados nos fundamentos da observância e da convicção judaicas. Não há qualquer exigência para repelir um ben-anús em processo de retorno, uma vez que ambas as responsas ashkenazi e Sefaradi medievais reconhecem a conexão histórica dos anussim à comunidade judaica como sendo judeus. As fontes sobre os anussim apresentam uma interessante variedade de abordagens relativas à exigência da educação e da cabalát miztva. As fontes ashkenazI silenciam sobre a exigência para educação, mas universalmente exigem cabalát miztva.
Mas as fontes Sefaradi declaram explicitamente que nenhuma educação ou cabalát miztva é necessária.
Nas palavras de Solomon Ben Simon Duran: “Uma vez que está claro que estes (anussim) não devem ser considerados prosélitos, nós então não precisamos lhes enumerar todos os mandamentos e suas punições (como deve ser feito a um gentio que deseja se tornar um prosélito)”. Isto é óbvio, uma vez que se você fosse lhe dizer que (como você faria com um candidato gentio para conversão), se ele (o ben-anús) não desejar aceitar os mandamentos, nós o afastaríamos e ele estaria livre delas como se fosse um gentio. – D-us proíba que isto sequer passe pela mente. “Porque ele já tem o pleno dever de cumpri-los da mesma maneira que nós”. Duran explica que a educação e a aceitação das mitzvot são desnecessárias porque o ben-anús já é, nas suas palavras, parte da casa de Israel. Após o ensino das mitzvot, o próximo passo no processo listado por Caro é a tevilá, a imersão na micvá. Tradicionalmente o prosélito imerge uma vez, recita as brachót (bênçãos) apropriadas e então imerge mais uma ou duas vezes. Todas as fontes ashkenazi exigem que um ben-anús em processo de retorno passe por tevilá. Fontes Sefaradim, de Rambám (Maimônides) em diante sustentam que a imersão é desnecessária. Duran declara: “Uma vez que ele (o ben-anús em processo de retorno) é um israelita, não precisa do banho ritual”.
O estágio final da conversão mencionada pelo Shulchan Aruch como parte de conversão é o brit milá, a circuncisão. A circuncisão de um prosélito será acompanhada pela brachá: “Baruch atá Adonai, Elohênu Melech Haolám, asher kideshánu bemitzvotav vetzivanu lamul et guerim (Abençoado és Tu, Eterrno, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e nos ordenaste a circuncisão dos prosélitos)”. Caro acrescenta que se o candidato já é circuncidado então deve ser feita a hatafát dám brit. B’rit Milá é traduzido literalmente como Sinal do Pacto, e é uma mitsvá obrigatória para todos os homens judeus. Assim, todas as fontes exigem que os anussim em processo de retorno sejam circuncidados ou façam hatafát dám b’rit. As maiores partes das fontes silenciam-se sobre o teor da brachá, mas Duran declara que as mesmas brachot usadas para os homens recém-nascidos no b’rit milá no oitavo dia devem ser usados para os anussim em processo de retorno. São estas:
“Baruch atá Adonai, Elohênu Melech Haolám, asher kideshánu bemitsvotáv vetsivánu al hamilá (Abençoado és Tu, Adonai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e nos ordenaste sobre a milá)”, antes da circuncisão, e “Baruch atá Adonai, Elohênu Melech Haolám, asher kideshánu bemitsvotáv vetsivánu lehachnissô bevritô shel Avraham Avinu (Abençoado és Tu, Adonai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e nos ordenaste inseri-lo [o ben-anús] no Pacto do nosso Patriarca Abrahão)”.
Embora a circuncisão seja exigida tanto para o prosélito quanto para o ben-anús, e de fato para qualquer homem judeu não circuncidado, o teor da brachá é novamente uma indicação do status pleno do ben-anús como membro do povo judeu.
Duas Perguntas Finais: Sinceridade e Descendência: Há duas perguntas finais que devem ser feitas. Será que devemos nos preocupar com a sinceridade da conversão inicial ao catolicismo pelo antepassado do ben-anús na Espanha dos séculos XIV e XV, e deveríamos aceitar apenas aqueles anussim que podem demonstrar descendência matrilinear até…, eu imagino que até Moshé Rabênu? Antigas autoridades sefaradim, tais como o Rivash, rabino Itschac ben Shesht, exigiram que fossem feitas cuidadosas avaliações dos anussim em processo de retorno (Responsa 11). Eles acreditavam que somente aqueles que foram convertidos violentamente, e, que nunca abraçaram o cristianismo em qualquer grau de sinceridade, deveriam ser aceitos de volta à comunidade judaica.
Shesht declara que há dois tipos de anussim: – 1. “Aqueles que escolheram a conversão, abandonaram o jugo da Torá, cortaram os elos da Torá deles mesmos, e de própria vontade seguiram os caminhos dos idólatras e estão transgredindo todas as mitsvot da Torá”, e,
– 2. “Aqueles que teriam deixado a Espanha, mas foram incapazes de fazer isso, e, tiveram o cuidado de não se sujarem com a impureza dos pecados, exceto em tempos e lugares de perigo”. O primeiro grupo, com efeito, não era mais parte do povo judeu, e seus membros tornaram-se inelegíveis como testemunhas, enquanto os do segundo grupo permaneceram como judeus e kasher como testemunhas. A responsa do Rivash tratava apenas daquelas pessoas que fizeram as escolhas iniciais relativas à conversão (ao cristianismo). Isto não dizia respeito aos filhos destes. Mais tarde as autoridades rabínicas Sefaradim se dirigiram aos descendentes destes anussim e não fizeram qualquer distinção.
O Papel do Rabino – O rabino, ele cumpre dois papéis básicos neste processo. Por um lado, ele é o representante da comunidade judaica. Tendo a responsabilidade de assegurar que qualquer indivíduo que se una à comunidade assuma uma qualidade de compromisso, um conjunto e valores e uma atitude com relação ao judaísmo que beneficie o povo judeu.
Por outro lado, ele serve como professor, conselheiro e companheiro espiritual na viagem do indivíduo em direção à sua identidade judaica. À primeira vista, estes dois papéis podem parecer estar em conflito. Mas a experiência atesta que, se ele cumprir bem ambos os papéis, nesta ocasião em que um candidato à conversão ao judaísmo NÃO se tornou judeu, tal decisão normalmente decorrerá de um reconhecimento compartilhado de que conversão não seria a escolha certa para aquela pessoa naquele momento. [2]
Fontes: [1] Revista Morashá, Edição 33 – Junho de 2001: http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/brit-mila.html
[2] Federação Israelita Sefaradi B’nei Anussim – UniBlog: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:DeQXEDlK088J:www.uniblog.com.br/fisba/385307/%253C!–%25MembrosLink%25–%253E+&cd=6&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br Coordenador: Saul S. Gefter